Fizeram-me “ser” humano

Fizeram-me “ser” humano Quem pediu reconstrução? Certamente não fui eu. No entanto, fizeram-me “ser” humano. Deram-me o peso dos sentimentos e a fragilidade do amor, como se fossem presentes, mas sinto que fui arremessado ao mundo sem escolha, sem voz, sem querer. Não pediram minha permissão para sentir, apenas colocaram dentro de mim essa capacidade de amar, que eu não pedi.

Fizeram-me acreditar que o amor é o que nos salva. E talvez até seja. Mas também é o que machuca. Porque amar implica sentir, e sentir é uma dor impossível de descrever. É o vazio que fica no peito quando o que amamos nos escapa entre os dedos. É o silêncio ensurdecedor de um “adeus” não dito, de um olhar perdido no abismo do desencontro.

Eu me pergunto: onde me encaixo? Se sou alguém, ou ninguém, ou apenas uma coisa que tenta sobreviver ao que fizeram de mim. Eu seguia um caminho, tudo bem que o que se encontra à frente são incertezas, mas já conhecia o caminho percorrido. E agora? Não conheço nada, não entendo este terreno que estou pisando. É como pisar em ovos. A vida me deu o dom de sentir, mas não me ensinou a sobreviver aos sentimentos. A reconstrução é lenta, árdua e solitária.

Hoje, sinto que estou tentando montar um quebra-cabeças com peças que não se encaixam mais. Perdi partes de mim pelo caminho, e as que restaram não fazem sentido. Não consigo me identificar, é como perder as referências.

Mas estou indo, continuo neste processo, porque talvez seja isso “ser” humano: continuar, mesmo quando não se sabe mais para onde e por quê. Às vezes, penso como era mais fácil ser frio, não sentir, não amar, não sofrer. Mas algo em mim, um vestígio de esperança ou teimosia, insiste em dizer que é preciso seguir.

Talvez haja algo no fim deste caminho. Talvez, em algum ponto, o que me quebraram possa se refazer. Por enquanto, sou um ninguém tentando ser alguém, tentando me reconhecer em algum pedaço desse quebra-cabeças, ou talvez apenas uma coisa que ainda não sabe onde pertence. Mas sigo, mesmo sem saber se um dia voltarei a me encontrar.

Robledo Gonzalez Costa